quinta-feira, 14 de abril de 2011

Carta de uma aluna do Curso

Palmas, 07 de abril de 2011.
Àqueles que precisaram, precisam, ou ainda vão precisar de um médico.

Você sabe quanto custa a formação de um médico? Deve estar pensando no quanto é gasto. Sim, é muito. Mas não é disso que quero falar. A formação de um médico custa tempo de estudo, muito além das horas-aula de uma faculdade. Custa esforço para tornar a teoria algo prático e que ainda respeite a HUMANIDADE do outro. Custa ESPAÇO FÍSICO: laboratórios, salas de aula, PRONTO-ATENDIMENTOS, HOSPITAIS. Sim! Um estudante de medicina aprende a suturar, a diagnosticar, a fazer uma anamnese, e tudo mais prático que deve fazer FAZENDO, nos outros que, obviamente, estão DOENTES.
Agora imagine você, esperando um atendimento, numa sala lotada, quente, cheirando a suor. Você está com náuseas, muita dor de cabeça e febre. Vem um aluno e faz-lhe um monte de perguntas para chegar em uma forma de lhe encaminhar para o atendimento mais adequado, ou para proporcionar-lhe imediatamente o atendimento. Enquanto você espera para ver se será atendido, vem outro aluno e lhe faz as mesmas perguntas, com o mesmo objetivo. Ambos cursam medicina e têm o mesmo trabalho. Não o fizeram ao mesmo tempo porque são de faculdades diferentes e as escalas dentro do hospital se chocaram.
Há outras partes que você não vai ver. Assistir uma cirurgia feita em você será disputadíssimo. Um aluno irá aprender como tratar você, outro não. E depois? O outro que não aprendeu também passará por situações semelhantes e terá que saber como tratar pessoas que tiveram o mesmo problema que você. MAS ELE NÃO APRENDEU, porque o hospital estava hiperlotado de ESTUDANTES.
Está achando que é uma realidade distante? Hoje o Hospital Geral de Palmas trabalha com a sua carga máxima de alunos que vão e vêm nos corredores, quartos e leitos buscando aprender. Não aprender sobre a doença, mas como tratar o paciente de forma HUMANA, com proximidade e não com frieza. Mas se há um excesso de alunos, as escalas devem ser rigorosas. O aluno fica entre o tempo e a proximidade com o paciente. Se o trabalho for feito de forma rápida, provavelmente não tratará o paciente de forma adequada.
E mais: ao contrário do que se diz, PALMAS TEM UMA FACULDADE DE MEDICINA que tem lutado para formar um perfil de profissional diferenciado. É a FACULDADE DE MEDICINA DA Universidade Federal do Tocantins. Os laboratórios da faculdade não brotaram da noite para o dia. O curso está em construção. Falta muitíssimo para se tornar o curso ideal.
A primeira turma irá iniciar seu período de internato. Plantões e aulas para a etapa final de formação dos médicos. Repito: PLANTÕES. Como colocar dentro de um hospital um grupo de estudantes e eles não terem onde recostar durante um atendimento e outro. SIM, no HGP não há dormitórios estudantis, que seriam necessários para que o estudante ficasse em período integral no hospital durante uma madrugada, por exemplo. E repito: AULAS. Não há salas de aula no HGP. Os casos clínicos são, na maior parte, discutidos nos corredores. ISSO É UMA REALIDADE HOJE.
Professores médicos (que são os mais necessários para a formação de outros médicos,) na Universidade Federal do Tocantins, se desdobram dando aulas entre seus atendimentos. Um professor deixa de dar aulas de uma matéria no qual era admirado e competente para dar aula noutra matéria. Está muito difícil adequar as necessidades de ensino à quantidade de professores disponíveis. POIS É, apesar de tantos professores comporem a grade da UFT, FALTAM PROFESSORES!
Some e veja: as aulas estão sendo dadas com esforço dos alunos e professores, a entrada de alunos no hospital tem sido difícil. E mesmo assim, esses alunos que são tidos como “metidos e filhos de papai” arregaçam as mangas, estudam, aprendem e fazem o serviço da melhor forma possível. É assim que é um curso em construção! Veja que há luta, há empenho de cada um para ser um bom profissional.
Em meio a tantas dificuldades, o que se tem hoje é a notícia que AGORA SIM PALMAS TERÁ UM CURSO DE MEDICINA. Espere, e os alunos da UFT? E o curso da UFT? Não existe? Existe e está gritando por investimento. Há vontade dos alunos, mas faltam: infra-estrutura para as práticas clínicas e professores. Não há necessidade, então, por enquanto, de abrir outro curso com alunos que irão enfrentar dificuldades semelhantes ou iguais às que já vêm sendo enfrentadas.
Não serão formados alunos que, “frente à um probleminha no serviço”, poderão ir para casa e pensar a melhor forma de agir. Serão FUTUROS MÉDICOS que lidarão com VIDAS SEM SAÚDE. Preste atenção a isso! VIDAS SEM SAÚDE! Mais vale um médico bom de serviço, que sabe “descobrir o que você tem”,  do que vinte MAL FORMADOS que vão te mandar de um serviço a outro e você continuará passando mal.
O curso de Medicina da UFT precisa de atenção. Outros cursos na capital seriam MUITO BEM- VINDOS, SE houvesse espaço para todo mundo. NÃO HÁ. Não se engane: NÃO HÁ LUGAR PARA QUE OUTRO CURSO SE INSTALE, NÃO HÁ INFRA-ESTRUTURA SUFICIENTE. Eu não quereria vir para uma faculdade em Palmas com  certeza de que disputaria um espaço dentro de um hospital para APRENDER ALGUMA COISA.
O MEC não aprova mais a construção de Hospitais-Escola! E a proposta da ITPAC vir para Palmas não inclui a construção de outro hospital. Os alunos da UFT continuarão a ser formados. Os alunos da ITPAC Porto Nacional  e Gurupi também continuarão a ser formados. Alunos da ULBRA continuarão a ser formados. E MAIS OS ALUNOS DE UM NOVO CAMPUS ITPAC PALMAS. NÃO CABE! Isso irá comprometer a formação de todos os outros que já foram citados.
Ao invés de haver dois cursos mal-estruturados, melhor um curso bem-estruturado. Um médico não pode ser formado de qualquer forma. E ISSO CUSTA ESPAÇO, ISSO CUSTA OLHOS POLÍTICOS PARA O QUE OCORRA, ISSO CUSTA OS SEUS OLHOS PARA O QUE ESTÁ ACONTECENDO! Não dá pra fingir que não está acontecendo. Não dá para fechar os olhos ou simplesmente achar que são mais médicos para o Estado do Tocantins. Não dá para fingir que o curso de Medicina da UFT não existe.  Serão mais médicos formados? Sim, formados de qualquer jeito, sendo calados mediante uma situação complicada. 
Eu não quero ser atendido por um profissional inseguro. Eu não quero ser atendido por quatro, cinco alunos me fazendo as mesmas perguntas cansativas. Eu não quero número, quero qualidade. Eu quero ser bem atendido. Eu quero que meu filho tenha segurança que irá ser um bom profissional. Eu quero que meu filho tenha boas condições de estudo e trabalho. EU quero que meu filho tenha a chance não só de passar em um vestibular, mas de se formar sem maiores problemas.  Eu quero ficar a par do que tem se passado. Eu não quero fingir que nada está acontecendo.
E VOCÊ?

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